segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Não quero mais pensar como um adulto

Às vezes é necessário apanharmos para aprendermos a lição. Hoje bati o carro. Na verdade bateram em mim. Um motoqueiro barbeiro, cuja moto não tinha nem placa. Minha primeira e única reação foi vomitar toda minha indignação “pô, você não tem nem placa!” “Seu filho nem tá de capacete!“ (Porque ele não estava e tinha batido a cabeça. Nada grave.) “É a lei, eu fiz o teste do Detran, você tem de andar atrás do carro!” (e o filho de uns 9 ou 10 anos me apoiando “é pai, ela tá certa”). Encostando o carro para não atrapalhar o trânsito, o homem vai embora, assim, de fininho mesmo. Eu fiquei tão indignada e atordoada que comecei a chorar pensando como eu ia pagar o conserto da porta; nos presentes que eu ia deixar de comprar para pagar; no meu pai, porque o carro é dele; em como aquilo atrapalharia o Natal etc.

Em casa continuei chorando, mas por outro motivo. Entre a batida e a fuga do homem, aconteceu algo que provavelmente vou continuar me arrependendo até os meus últimos suspiros de vida. Enquanto o homem verificava se a moto estava bem, o menino tirou umas três conchinhas do bolso e estendeu a mãozinha me oferecendo uma, para que eu pudesse ouvir as ondas do mar, porque ouvi-las era tão bonito... Eu peguei uma, encostei ao ouvido, com força segundo orientações do menino e até ouvi. Ele me ofereceu a concha como presente, mas devolvi. Eu não me senti digna, porque eu ainda estava furiosa com a situação. E me arrependo e me envergonho profundamente de não ter sido um pouco mais gentil e calma e me preocupado com o menino por primeiro, pois ele bateu a cabeça; onde eu estava com a cabeça? Arrependo-me e me envergonho de não ter sido mais compreensiva, de não ter perdoado mais, de não ter desejado um Feliz Natal, de não ter abraçado o menino por me oferecer conchinhas, de não ter sido um pouco mais criança, assim como ele, porque ele é uma criança linda. Sempre lutei contra pensamentos mesquinhos adultos e isso é tão difícil. Eu andava tão estressada e indignada com tanta coisa e tanta gente que era quase impossível pensar igual àquele menino. Essa foi a surra que levei, e esta a lição que aprendi com um menino de 10 anos: “pense e aja mais como uma criança.”

Deus abençoe o menino, que me lembrou um pouco o pequeno Tim.

p.s.- essa situação me lembrou uma ilustração lindíssima do Carter Goodrich. Não imaginava quão adulto no celular eu estava.


Sem post-it, porque não deu tempo.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Saudades

Saudades, favorite word in Portuguese.

Triste, feliz, triste. Foi embora o João, meu querido John-John. Cresceu, aprendeu, ensinou e foi embora, sem saber voar direito, viver a vida dele. Talvez se eu tivesse certeza de que ele está bem não estivesse mais triste que feliz. E já dizia o Leão Amarelo: "o mundo é um lugar difícil de se viver." Mas a saudade é assim, sempre com uma pitada de tristeza e outra de alegria. Fazia muito tempo que eu não comia torradas chorando.

terça-feira, 1 de março de 2011

Same things


Tente ver as mesmas coisas sob uma perspectiva diferente. Porque elas têm muito mais valor ao que damos a elas e você deixa de ter uma rotina entediante.
Outro dia eu estava no ônibus, porque, sim, eu utilizo o transporte público da minha cidade, e parecia catastrófico: trânsito, pessoas mal-cheirosas, mau-humoradas, mal-educadas, sujeira, o fato de eu não poder ler em movimento, e mesmo a paisagem, refúgio de toda essa decadência, já virara rotina não tão prazerosa; então tentei não ver o aspecto decadente e visualizei tudo e todos com olhos curiosos de uma turista ou uma criança pesquisadora dos costumes humanos - fiz ouvindo música, é claro, porque a música faz maravilhas - e, voilá, tinha um momento mais agradável do que aquele que eu tinha antes.
Não posso dizer que isso funcionou todos os dias, mas ajudou na maioria deles. Passei a aplicar este experimento em outras coisas as quais me incomodavam e percebi que eu tinha poder sobre isso, que eu podia mudar esse estado boring de vida. Pode não funcionar com alguns problemas, para estes talvez seja necessário ousar agir de outra maneira, mas dá uma sacudida na rotina.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Queimem tudo!



Lembro da desnecessária história de modificar a letra da música "Atirei o pau no gato" (que por sinal me faz inquietantemente dizer que, quando eu era criança, não entendia o mesmo contexto das pessoas adultas que quiseram modificá-la) em vez de orientar pais que permitem seus filhos ouvir músicas com piores contextos e que incentivam suas filhas de 4 anos a dançar no queijo com roupas indecentes. Ou a história de mudar o nome "inspetor" de colégio para "auxiliar educacional" (é gente que parece não ter o que defender em tese de doutorado e procura chifre em cabeça de cavalo, ou melhor, fronteiras imaginárias, prontofalei!). Ou daquela que não se permitiu uma quinta série (na época) ler um conto de Machado de Assis porque são, digamos, incompetentes para tal leitura (é impressionante como alguns adultos subestimam as crianças e pré-adolescentes!)
Isso não basta. Não, resolveram também "queimar" livros. Em especial: "Caçadas de Pedrinho" de Monteiro Lobato. Por causa disso e daquilo deveriam, então, queimar outros livros infantis, juvenis e adultos. Queimem todos! Queimem todos na fogueira de São João na Fazenda do Torto, porque organizar festa lá funciona e não falta a fogueira.
Espera! Mas não seria o caso de orientação, contextualização e interpretação? Sim, porque sem isso alguns diriam que estou querendo mesmo queimar livros...
Toda vez que me deparo com a educação brasileira vejo a impressionante quantidade de descasos (isso merece um post próprio), e perceba, leitor, quando fazem caso, fazem dele uma loucura.

Divulgo aqui o site Livros e afins, no qual essa situação toda está melhor dita por Alessandro Martins.